Novos talentos e a indústria publicitária
O mercado publicitário está diante de uma transformação provocada pela renovação da Lei de Cotas no ensino superior. Com a aprovação da reformulação desse projeto, surgem oportunidades para as agências absorverem talentos criativos oriundos dessas ações afirmativas de diversidade e inclusão. A questão que se coloca é como a indústria vai receber e integrar esses novos profissionais. Também é importante entender as adaptações necessárias nos cursos de publicidade e propaganda para acolher essa nova realidade.
Oportunidades e desafios
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, o percentual da população universitária no geral cresceu para 19,2% em 2022, ante 17,5% em 2019. Ao mesmo tempo, agências e marcas têm implementado projetos e ações voltados para a representatividade. Após o movimento global de reafirmação da cultura negra e de rejeição aos abusos policiais, as empresas têm se mobilizado para promover a inclusão e a diversidade.
Aprovação da reformulação da Lei
Em outubro de 2023, o Senado Federal aprovou a reformulação da Lei de Cotas, que reserva vagas como parte do projeto político de equidade racial e socioeconômica aprovado em 2012. Apesar disso, Mylene “Mycra” Alves, diretora de estratégia da Gana, ainda não percebe uma absorção proporcional desses alunos no mercado. Ela ressalta que, apesar da década de políticas de cotas, há um déficit na integração desses profissionais no dia a dia das agências.
Diversidade na publicidade
Roberto Tourinho, presidente do Sinapro-SP, destaca a importância das políticas de cotas e bolsas para garantir o acesso dessas pessoas ao ensino superior e ao mercado de trabalho. O coletivo Publicitários Negros compilou as principais agências e empresas de publicidade com lideranças negras. No entanto, Tourinho ressalta a importância de não apenas ampliar a contratação, mas também manter esses profissionais nos quadros de funcionários das empresas.
Desafios a serem superados
Apesar dos esforços das agências em oferecer programas de capacitação profissional ao longo da carreira, as proporções entre pessoas brancas e negras ainda são discrepantes.
Eneus Trindade, chefe do departamento de RP, publicidade e turismo da USP, participou do movimento de reformulação das diretrizes de ensino superior proposto pelo Ministério da Educação em 2017, visando incluir a diversidade como tema transversal na formação de profissionais. Projetos como o Rumos Mais Pretos, da Universidade do Rio Grande do Sul, têm buscado fomentar a ampliação de estágios remunerados para negros nas agências de Porto Alegre e são exemplos das iniciativas que visam promover a inclusão e a igualdade.
Desigualdade racial em evidência
A desigualdade racial também se reflete no corpo docente das universidades. Os números revelam que, apesar do avanço, ainda há muito a ser feito para garantir a representatividade nos espaços acadêmicos. Ampliar a inclusão e a diversidade na publicidade é um desafio que exige a atuação conjunta de diferentes agentes do mercado, desde as agências até as instituições de ensino.